terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A volta de quem não foi

Há 50 anos, José Sarney ingressava na vida pública. De lá para cá foi deputado, senador ,governador e presidente da república. Com 77 anos, ostenta o título de político em atividade com a ficha mais eminente. Ficha esta em que será acrescido novo mandato de presidência do Senado, presidindo pela terceira vez o Congresso Nacional.

Desde que Sarney se lançou postulante à presidente do Senado, em detrimento de Garibaldi Alves, poucos ousaram apostar em sua derrota. Gabando-se de uma aliança com vários partidos (somente a bancada de PMDB e DEM já somava 24 votos), que, segundo suas contas, lhe renderia 55 votos de um total de 81, e de ter a simpatia do Planalto, Sarney sabia que a vitória era praticamente certa.

O PSDB bem que tentou impedir a volta do ex-presidente. No último momento, os líderes tucanos Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB, Arthur Vigílio, líder do partido no Senado e Tasso Jeireissati, ex-presidente do PSDB, se reuniram com Tião Viana e firmaram apoio ao candidato petista.

Pode-se pensar que os tucanos agiram em prol da ética, repudiando tanto o anacronismo de Sarney quanto a volta de Renan Calheiros, o poder principal articulador da candidatura do ex-presidente. Pode até ser que seja isso, mas a política brasileira há muito não é um conto de fadas (se é que já foi um dia).


O PSDB pediu a Sarney cargos importantes na mesa diretora do Senado: primeira vice-presidência e a quarta-secretaria. Além disso, queria a Comissão de Assuntos Econômicos para o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e a Comissão de Relações Exteriores para Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Os pedidos forar feitos tardiamente. Naquela altura Sarney já havia aberto uma boa vantagem para Viana e o PSDB perdido o papel de fiel da balança. A solução foi apoiar Tião Viana, que concederia os cargos aos tucanos. Com isso, os 13 senadores tucanos passaram a apoiar o candidato petista (com exceção de Papaléo Paes - PSDB-AP- que apoiava abertamente Sarney).


A diferença entre Sarney e Tião Viana passou a ser, em sondagens informais , de cerca de 3 senadores. Tal qual uma fênix, o petista ressurgiu das cinzas. Havia , porém, uma outra questão: as traições. E foram elas quem decidiram o pleito.


O resultado final foi de 49 votos para Sarney, contra 32 para Viana. Foi uma boa vantagem, mas muito inferior às obtidas anteriormente: em 1995 foi eleito por 61 a 7, e em 2003 obteve 76 votos.


Enquanto isso, Michel Temer foi novamente eleito presidente da Câmara. Tala qual Sarmey, será a terceira vez que ocupará o posto. O pemedebista obteve 304 votos, desbancando Ciro Nogueira (PP-PI), com 129, e Aldo Rebelo (PT-SP), que teve 76 votos. Temer já havia comandado a Casa nas eleições de 1997 e 2000.


SALDO FINAL

O PMDB saiu extremamente fortalecido das eleições. Com a dobradinha Câmara-Senado, comandará um orçamento de cerca de 6 bilhões de reais, além de influenciar a escolha dos cargos na mesa diretora e em comissões. Mas, principalmente, todos os projetos do governo terão que passar pelo crivo dos pemedebistas. Já virou clichê, mas a frase é sempre válida: o PT ficou ainda mais refém do PMDB.

Nesses dois anos restantes de governo Lula, será o PMDB quem dará as cartas. E ao PT restará o esforço de tentar manter seu principal aliado. Isso porque, de acordo com pesquisas e com o panorama atual, há grandes chances do futuro presidente ser o tucano José Serra. Não resta dúvidas de que o PMDB ficará seduzido a apoiar o PSDB (visando ministérios, secretarias e cargos em empresas estatais), em detrimento de um apoio a uma candidata petista fadada à derrota. Portanto, se Dilma Rouseff não emplacar (atualmente detém menos de 15% da preferência do brasileiro, contra mais de 40% de José Serra), é muito provável que o PMDB passe a sustentar a base aliada tucana.

Tal fato escancara as mazelas da política nacional. O PMDB, atualmente o maior partido do país, não utiliza seu poder em prol de mudanças benéficas ao Brasil. Em vez disso, sua opulência é meio de chantagem ao Executivo para que seus filiados possam assumir o maior número de cargos possível. E é por isso que, durante dois anos, vislumbraremos o bigode de Sarney, símbolo do anacronismo e da política em prol pessoal e partidário, reluzir na mídia.


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