segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

É uma cilada, Bino

A atual grande polêmica rondando o Planalto tem nome e sobrenome: Cesare Battisti. Aos que desconhecem a história, segue um breve resumo:

Cesare Battisti é um italiano condenado à prisão perpétua em seu país, acusado de assassinar 4 pessoas quando era membro do grupo esquerdista radical Proletários Armados para o Comunismo (PAC - curiosamente, a mesma sigla do pacote de obras do governo federal). Para escapar da prisão, Battisti se refugiou em vários países, até vir ao Brasil. Na França, último país em que se refugiou antes de partir para o solo tupiniquim, o italiano tornou-se um escritor, obtendo relativo sucesso. Eis o homem:


http://www.repubblica.it/2008/04/sezioni/esteri/battisti-estradizione/battisti-estradizione/stor_10025912_59160.jpg


Agora entra a polêmica: a justiça italiana quer, a todo o custo, a extradição de Battisti. Exige que o "terrorista" cumpra a sentença e fique perpetuamente encarcerado. Pedem sua extradição desde 2007, ano em que o acusado foi preso pela Polícia Federal brasileira. Porém, o ministro da Justiça, Tarso Genro, surpreendeu a todos semana retrasada ao conceder o asílio político ao italiano. E aí começou o inferno.

Segundo Tarso, Battisti não teve um julgamento justo na Itália. De fato, a condenação para cumprir prisão perpétua foi feita à revelia do acusado, ou seja, sem a presença do mesmo no tribunal. Além disso, uma das principais testemunhas contra Battisti, Pietro Mutti, foi favorecida pela "delação premiada" (é, basicamente, quando a pena é amenizada se dedurar os coleguinhas). O italiano, que não teve oportunidade de se defender, nega veementemente a autoria dos crimes e afirma que, apesar de ter pertencido à luta armada durante a juventude, hoje é um pacífico escritor.

Contra Battisti pesam algumas testemunhas, que afirmam que ele participou, dentre outros crimes, do assassinato do joalheiro Luigi Pietro Torregiani em 16 de fevereiro de 1979; a justiça italiana; o parecer do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), órgão responsável por julgar casos de asilo em primeira instância, de negar o asilo político; e seu passado repleto de pequenos delitos (que a justiça italiana utiliza para considerar seus crimes como "comuns" e não "políticos").

Realmente não há como julgarmos se Cesare Battisti é ou não um criminoso que merece pagar pelos crimes passados. Há vários (bons) argumentos de ambos os lados. Portanto, não vou entrar no mérito da decisão de Tarso Genro. Esteja ele certo ou errado, a confusão está armada.

A Itália repudiou duramente a decisão brasileira de conceder o asilo a Battisti. O presidente italiano, Giorgio Napolitano, mandou uma carta a Lula criticando sua decisão. Até aí, tudo bem. Porém, o conteúdo da carta, extremamente ofensiva, foi divulgado para a imprensa italiana, antes mesmo do presidente brasileiro lê-la. Fala-se muito do desastre diplomático que a decisão de Tarso Genro acarretou, mas não se considera a arrogância do governo italiano. De que ajudou Napolitano revelar o conteúdo da carta? Apenas serviu para exaltar, ainda mais, os ânimos. Certa ou errada, a decisão do presidente Lula foi soberana. O Brasil tem tradição de conceder asilo diplomático, e tem amparo legal para tanto. Portanto, a Itália tem o direito de ficar indignada, mas deve resignar-se perante a soberania brasileira. Não adianta enviar (e divulgar) cartas com críticas ofensivas e fazer ameaças de represálias (como vetar a participação brasileira no G-20 - já que a Itália é a presidenta do grupo esse ano). Mesmo que Tarso Genro esteja moralmente errado, está legalmente amparado.

Fora a polêmica diplomática (que, com toda certeza, ainda terá vários capítulos), há ainda uma outra. Um dos advogados de Cesare Battisti é Luiz Eduardo Greenhalgh. Lembra-se dele? Vou refrescar a memória: filiado ao PT, ele já foi eleito deputado federal por 4 vezes. Recentemente ele esteve envolvido em outra polêmica: era um dos advogados de Daniel Dantas e foi acusado de utilizar sua influência dentro do partido e do planalto para livrar seu cliente. Há, portanto, a suspeita de que Greenhalgh influenciou Genro a tomar a decisão pelo asilo político a Battisti


E agora?

Provavelmente o caso será julgado pelo STF, que, ao que tudo indica, manterá o asilo político. A Itália continuará pressionando. Só espero que Lula mantenha sua decisão e continue apoiando Tarso Genro. Não que eu simpatize com Battisti. Já afirmei que não há como ter certeza se ele é ou não criminoso. Porém, o Brasil deve exercer sua soberania e não ceder à pressão Italiana, caso contrário passaria a imagem de um país fraco. Mesmo que esteja errado, nesse caso Lula deve persistir no erro.

Enfim, a culpa é toda de Battisti. Essa verdadeira cilada veio parar justo no Brasil. Da próxima vez, vá pára a Argentina!!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Tchau, Garibaldi

Já havia dito o senador norte-rio-grandense: "É mais fácil dizer não ao Lula do que a Renan Calheiros e José Sarney". E não deu outra. Garibaldi desistiu oficialmente da disputa à presidência do Senado, deixando o caminho livre para a candidatura de Sarney (que, dizem, será oficializada na próxima quarta-feira).

Até aí, nenhuma novidade. A entrada de Sarney na disputa, em detrimento de Alves, já era esperada. Porém, o que surpreendeu muita gente foi a permanência de Tião Viana (PT-AC) no embate. Sarney havia dito que só seria candidato se seu nome fosse consenso entre todos os partidos, daí o raciocínio de que o candidato petista sairia da disputa.

O PT, porém, não quer ficar refém de um PMDB comandante das duas Casas. Com Michel Temer e José Sarney presidindo Câmara e Senado, respectivamente, o Planalto teria que ser ainda mais generoso com os pemedebistas, já que é primordial a aprovação dos projetos governistas nesses dois últimos anos de mandato te Lula para que o PT posso angariar capital político suficiente para eleger Dilma Rousseff.

Assim, Tião Viana mantém sua candidatura, com o aval do PT e aliançado a PT, PSB, PDT, PR, PRB e PSOL, totalizando 27 votos, de um total de 81 senadores. É pouco. O PMDB de Sarney, sozinho, detém 20 votos. O DEM, que já deu a entender que apoiará o ex-presidente da república, contabiliza mais 13 votos.

O fiel da balança na disputa será o PSDB, com 13 senadores. E, aí, tudo pode acontecer.

Os tucanos teriam maior vantagem apoiando Sarney. Assim, jogariam mais lenha na fogueira da discórdia que começa a se acender entre PMDB e PT (já há petistas afirmando que deixarão de votar em Temer na Câmara). Dessa forma, complicariam os dois últimos mandatos de Lula e, principalmente, veriam mais próximo o tão almejado sonho de ter o PMDB como aliado na disputa presidencial de 2010.

Há, contudo, um porém. O PSDB foi, junto ao DEM, um crítico ferrenho de Renan Calheiros durante o escândalo envolvendo o ex-presidente do Senado, e um dos principais entusiastas com a sua cassação do cargo. Pois bem. Eis que Calheiros é o atual líder do PMDB e um dos protagonistas da entrada de Sarney na disputa. Seria uma enorme incongruência se os tucanos apoiassem a volta daquilo que tanto combateram.

Quem está sorrindo à toa, é claro, é o PMDB. Com grandes chances de assumir a Câmara e o Senado, o maior partido do país terá ainda mais poder nesses últimos dois anos de governo Lula. Além disso, é visado tanto pelos petistas quanto tucanos para ser aliado para 2010. São as vantagens de ser o maior partido do país...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

E agora, Maquiavel?

E o caso Dantas recebe novamente destaque na mídia. Porém, o banqueiro do Opportunity deixou de ser o protagonista das manchetes, tomando o seu lugar justamente o mentor da operação Satiagraha, o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz.

A última grande aparição de Queiroz na mídia foi em 5 de novembro, quando a PF invadiu seu apartamento em São Paulo e apreendeu alguns de seus pertences para análise de perícia, com o intuito de descobrir se houve irregularidades durante a operação que prendeu Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta, dentre outros.

Umas das irregularidades seria a utilização dos "arapongas" da Abin pela PF na espionagem do banqueiro e seus comparsas.

Pois bem, após um certo período de ausência na imprensa, limitando-se a aparecer em pequenas matérias sobre sua aparição em comícios do PSOL, fato que levantou suspeitas sobre uma futura carreira política, Protógenes foi hoje novamente manchete.

A perícia em dois pen drives, recolhidos do apartamento do delegado em novembro, revelou que a PF monitorou Nélio Machado, advogado de Dantas. São várias as fotos e arquivos de áudio envolvendo o advogado, provando que o mesmo foi espionado. Resta saber se foi pela PF ou pela Abin.

Independente do agente da espionagem, já há irregularidades. A Constituição proíbe que os advogados sejam investigatos, restringindo aos clientes dos mesmos as investigações. Portanto, a espionagem foi ilegal.

Que Protógenes Queiroz tem boas intenções, ninguém duvida. O Brasil precisa de mais homens assim, com sede de justiça. Porém, na ânsia de provar os crimes de Dantas e levá-lo a cadeia, o delegado cometeu delitos que terão efeito contrário: pode ser que as provas recolhidas na Satiagraha sejam consideradas ilegais, anulando todo o processo. Significaria o seguinte: todos os crimes cometidos por Daniel Dantas estão fisicamente provados, porém as provas não tem nenhum valor legal. Todos sabem que o banqueiro é culpado, mas não há amparo na lei para a sua condenação, graças aos deslizes de Protógenes.

Aí é que está: os fins realmente justificam os meios? Protógenes utilizou de todos os meios possíveis - legais ou não - para recolher provas concretas contra Dantas. Esse objetivo foi alcançado. Mas, agora, corre o risco de todas essas provas serem descartadas. Será que Maquiavel estava certo?


Olha o Sarney aí, gente - Parte 2

Os postulantes à presidência do Senado, Tião Viana (PT-AC) e Garibaldi Alves (PMDB-RN), estão "receosos" (utilizando-se de eufemismo) com a possível entrada do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) na disputada. Preferido pelo Planalto, Sarney diz estar gripado e só aceita conversar com Lula semana que vem. Na realidade, espera que haja um acordo para que seu nome seja um consenso tanto do PT quanto PMDB.

Enquanto isso, Garibaldi e Viana não ficam parados.

Segundo informou o Estadão, Viana teria ligado para Garibaldi para firmarem um acordo, no qual ambos manteriam a candidatura, mesmo com a entrada de Sarney.
-Você mantém a candidatura, mesmo se o Lula pedir que saia? - disse Garibaldi
-Mantenho. E você, mantém mesmo se o PMDB pedir que desista? - questionou o petista
-É mais fácil dizer não ao Lula do que ao Sarney e ao Renan Calheiros... - filosofou o pemedebista

Pois é, a briga vai ser feia.




terça-feira, 13 de janeiro de 2009

OLHA O SARNEY AÍ, GENTE!

Em meu último post (há uma semana, já que a preguiça me impediu de escrever mais), afirmei que a disputa à presidência do Senado seria um difícil embate entre Garibaldi Alves (PMDB-RN) e Tião Viana (PT-AC). Pois bem, parece que o embate tomará novos rumos.

Como disse anteriormente, Garibaldi Alves não é consenso entre o PMDB, tão pouco visto com bons olhos pelo PT, pois, apesar de pertencer à base aliada do governo, toma decisões consideradas "independentes". Ou seja: não é um mero cordeiro guiado pelas decisões do Executivo, perfil que este gostaria que tivesse o presidente do Senado. Além disso, a canditadura de Alves pode ser considerada ilegal, já que a reeleição é proibida num mesmo mandato de senador. Quanto a isso, o postulante norte-rio-grandense garante ter consultado 6 famosos jurídicos, com todos afirmando que a candidatura é legítima.

Ao PMDB, porém, a deculpa de uma possível candidatura ilegal de Garibaldi é um excelente pretexto para lançar um nome que é bem visto tanto no partido quanto no PT: o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP).

Até meados do ano passado Sarney era quase consenso entre os especialistas como novo presidente do Senado. Além de sua experiência como ex-presidente da República, agrada tanto à base aliada quanto à oposição (já foi filiado ao PFL, hoje DEM). Além disso, é visto pelo Executivo como alguém que não arranjaria problemas. Sua candidatura só não prosperou por um problema familiar: sua fiha, a também senadora Roseane Sarney (PMDB-MA), está passando por problemas de saúde e vem sofrendo diversas cirurgias para tratar de um aneurisma cerebral.

Mas por que sua candidatura voltou a tomar força?

A resposta é simples: o PT teme que a disputa no senado com o PMDB resulte em atritos com o seu principal parceiro, que será vital nas eleições de 2010 (e já vem recebendo assédio do PSDB). Como Sarney é bem visto em ambos os partidos, sua candidatura solucionaria o problema.

Tião Viana seria, então, descartado. Mas o preterido não sairia de mãos vazias: a ele seria entregue um importante cargo, talves até ministerial (o Ministério da Saúde é o mais cotado, já que o atual ministro, José Gomes Temporão, está extremamente desgastado politicamente por suas críticas a Funasa).

Apesar dessa mudança, o resultado continua o mesmo: é muito provável que o PMDB detenha a presidência da Câmara e do Senado, saindo extremamente fortalecido. E qualquer partido que aspire à Presidência da República em 2010 não será louco de bater de frente com ele.

DILMA VERSÃO 2009

Se restavam algumas dúvidas sobre a candidatura da petista Dilma Rousseff para a presidência da República em 2010, elas provalvelmente foram sanadas. A atual ministra da Casa Civil estreou o ano com um novo visual, que inclui deste plásticas no rosto até muança no corte de cabelo. Isso somado à troca dos óculos pelas lentes de contato, utilizadas pela ministra desde o ano passado.

Veja a mudança (foto da Agência Estado e retirada do site www.ultimosegundo.ig.com.br)

NOVA DILMA X VELHA DILMA


Isso lembra alguém da mudança de Lula para as eleições de 2002, com barba feita, terno em ordem...?
Boatos maldosos afirmam que José Serra anda preocupado, e já estaria cogitando até um implante de cabelo e uma modificação naquela testa enrugada.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Eleições de 2009

Está chegando ao fim os mandatos de presidência de Arlindo Chinaglia (PT-SP) na Câmara dos Deputados e de Garibaldi Alves (PMDB-RN) no Senado. Em fevereiro serão realizadas as eleições para decidir os futuros presidentes das casas.
Na Câmara, Michel Temer (PMDB -SP) é o candidato com maior força. Além de contar com o apoio do próprio partido, detentor de 102 cadeiras, Temer tem também o patrocínio de mais 12 legendas: PSDB, DEM, PPS, PR, PTB, PSC, PV, PHS, PTC, PDT e PT. De acordo com suas contas, ele pode garantir nada menos que 420 votos só no primeiro turno.
O adversário de Temer será Aldo Rebelo (PC do B - SP), que até agora tem como principal legenda aliada o PSB. Rebelo já foi presidente da Câmara de 2005 a 2007. Tentou a reeleição, mas foi derrotado por Chinaglia na segundo turno (teve 243 votos, contra 261 votos do pemedebista). Uma das principais características de Rebelo é seu ufanismo, que o fez tomar medidas que foram alvos de piadas entre seus correligionários, como o projeto de criar o Dia Nacional do Saci-Pererê em 31 de outubro, em substituição ao Dia das Bruxas.
Há alguns meses surgiram boatos de que Aldo Rebelo assumiria o Ministério da Defesa, substituindo Nelson Jobin (período no qual o atual ministro estava bastante desgastado politicamente). Porém, as insinuações não deram frutos.
Temer e Rebelo terão que competir também com Ciro Nogueira (PP-PI) e Osmar Serraglio (PMDB-PR), estes com chances ínfimas de irem ao segundo turno. Mas, desde que Severino Cavalcanti (PP) foi eleito presidente da Câmara em 2005, desbancando o favorito Luís Eduardo Greenhalg (PT), de nada podemos duvidar.


Página no site da Câmara de Aldo Rebelo: http://www.camara.gov.br/Internet/Deputado/DepNovos_Detalhe.asp?id=96819&leg=53


SENADO
A disputa no Senado promete render mágoas futuras. Após assumir um mandato tampão resultante da renúncia de Renan Calheiros (PMDB-AL), que envolveu-se num escândalo de que todos devem recordar, Garibaldo Alves decidiu postular-se ao cargo novamente. Isso irritou profundamente o PT, que tinha um acordo tácito com o PMDB de apoio mútuo para as presidências (o PT cederia a presidência da Câmara para o PMDB, e o PMDB cederia a do senado para o PT). Os petistas não vêem com bons olhos Garibaldi Alves, devido à sua posição relativamente independente em relação ao Executivo, chegando até a tecer críticas ao mesmo (sua maior birra é com a fórmula das Medidas Provisórias, que trancam a pauta da Casa).
O adversário de Garibaldi será Tião Viana (PT-AC). Viana e seu partido terão que se esforçar muito para conseguir a cadeira de presidente, pois PSDB e DEM já deixaram claro que irão apoiar o candidato do PMDB (principalmente por sua independência, como dito acima). Ninguém duvida, portanto, que o Carnaval em Brasília começará em Janeiro, com a festa da distribuição de cargos e liberação de verbas para os senadores, a fim de angariar capital político para a vitória de Viana.
Página de Tião Viana no site do Senado:
Quem se fortalecerá, sem dúvida, é o PMDB, com excelentes chances de sentar na cadeira da presidência da Câmara e do Senado. Ao PT resta não contrariar muito seu principal aliado, que será vital para outra eleição, a de 2010, dessa vez valendo nada mais do que a cadeira da Presidência da República. E, nela, é o PSDB quem está mais próximo de sentar. Nessa dança das cadeiras, porém, ainda há muita música para tocar.