A crise econômica recrudesce cada vez mais, chegando a derrubar nosso PIB em 3,6% no último semestre de 2008. Fábricas fechando e aumento do desemprego clamam por um trabalho redobrado, tanto na esfera Federal quanto no âmbito Estadual, de nossos governantes. Estes, porém, preocupam-se com um outro problema: eleições de 2010.
Os três principais postulantes à faixa presidencial já iniciaram, cada um a sua maneira, a corrida rumo ao cargo mor da nação. Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e José Serra (PSDB) não querem deixar para depois o que se pode fazer hoje, e estão levando a sério o ditado “Deus ajuda quem cedo madruga” (neste caso, o protagonista da ajuda será o eleitor).
A campanha de Dilma Rousseff tomou força logo após a plástica realizada em seu rosto. Se beleza fosse motivação de voto, Serra deveria tomar cuidado (ao menos uma implantação de cabelo seria essencial). A Ministra da Casa Civil vem desde então multiplicando sua participação em eventos oficiais, aproveitando ao máximo o título de “mãe do PAC” para promover e presenciar qualquer inauguração, fiscalização ou término de obras. Em quase todos os eventos um palanque é erguido e a candidata petista não exita em praticar sua habilidade em comícios. Habilidade esta que precisa, e muito, ser aprimorada, já que a ministra ainda abusa de termos técnicos estranhos ao eleitorado.
Todo o esforço está sendo recompensado. Praticamente não há edição do noticiário em que Dilma não esteja presente. No jornal ESTADAO, por exemplo, a foto da petista é estampada quase que diariamente. Ressalta-se que as matérias em que ela é citada não são favoráveis (muito pelo contrário), mas a frase “bem ou ruim, o importante é que falem de mim” deve ser levada a sério.
Pesquisas de opinião datadas do início de 2008 revelavam uma ínfima preferência do público por Dilma (ela perdia, inclusive, para Heloísa Helena – PSOL - e Ciro Gomes – PSB). Atualmente o cenário é outro. A ministra receberia 13,5% dos votos na disputa com Serra e Heloísa Helena -uma subida de três pontos percentuais em relação ao mês de dezembro, quando registrou 10,4%. Se continuar assim, Dilma terá enormes chances de ser eleita a primeira presidenta brasileira.
PSDB
O tucanato deveria ter motivos de sobra para sorrir. O governador paulista José Serra é disparato o preferido do público para assumir a presidência, ostentando mais de 30 pontos de vantagem sobre Dilma. Porém, o cenário não é para sorrisos. O governador mineiro Aécio Néves, diante dos recordes de aprovação em minas e dono de um competente choque de gestão no estado, também está na disputa.
Há muito Aécio reclamava para si um lugar na disputa. Sentindo-se preterido pelo PSDB e injustiçado por não ter espaço na disputa com Serra, cogitou-se até sua saída do partido. O PMDB, aliás, ainda mira nessa possibilidade. Em recente evento de lançamento da pré-candidatura do ministro das Comunicações, Hélio Costa, ao governo de Minas, os pemedebistas gritaram em massa: “Doutor, eu não me engano, o Aécio não é tucano”. O PMDB já não mais esconde seu assédio a Aécio, sonhando assim em ter seu próprio candidato presidencial para 2010 e não mais ser apenas um coadjuvante (isso nas eleições, é claro, pois é impossível governar sem o apoio da máquina pemedebista, que angariará ao partido um punhado de Ministérios e estatais).
Diante das reclamações do mineiro, o PSDB decidiu pela realização de prévias para a escolha do candidato. Será algo semelhante à disputa de Hillary e Obama no Partido Democrata: os filiados ao PSDB escolherão quem representará o partido no embate de 2010.
O maior medo é que a disputa interna não seja saudável, ou seja, que Aécio e Serra promovam atritos que acabem por prejudicar a ambos. Isso seria um desastre para as pretensões do partido, já que Minas Gerais e São Paulo são estados chaves para se vencer uma eleição. Mas o principal problema é outro.
Tanto Serra quanto Aécio terão que percorrer o país para divulgar seus nomes aos tucanos. Isso acarretará em gastos ao partido e, principalmente, na ausência dos governantes em seus estados. Assim, o PSDB não terá moral alguma para criticar a campanha antecipada de Dilma e sua aparente ausência do Gabinete da Casa Civil.
Aécio teria a solução para não atrapalhar o trabalho como governador. Declaração dele publicada no ESTADAO nesta terça-feira afirma que bastaria viajar aos fins de semana. E propôs fazer as viagens juntamente com o governador paulista. No papel (e supondo-se que vivemos no mundo perfeito) seria uma boa idéia, já que as viagens não impediriam os afazeres como governador e serviria para que ambos conhecessem a realidade do Brasil.
Mas o conto-de-fadas logo foi desfeito. Manchete de uma matéria do próprio ESTADÃO na quinta-feira: “Aécio começa segunda-feira giro pelo país em defesa das prévias”. Segundo o jornal, o mineiro viajará segunda-feira para Recife e um dos objetivos é a divulgação de seu nome para as prévias. Mas não foi ele quem disse, apenas um dia antes, que as viagens seriam aos fins de semana? Segunda-feira é dia vago para os mandantes do Executivo?
Serra não quis entrar nessa de viajar. Afirma que a hora é de trabalhar. Ótimo. Mas o governador paulista não revela que, a exemplo de Dilma, tem freqüentado inaugurações de obras com uma assiduidade exacerbada. Sem contar que, não obstante repreender a atitude de Aécio de fazer uma turnê pelo país, estará segunda-feira no Recife com o mineiro.
O fato é que a disputa iniciou-se muito cedo. Não há mocinhos: Dilma, Serra e Aécio estão prestando um desserviço à nação com o palanque eleitoral montado em 2008. A crise não é uma “marolinha”, tal qual Lula havia chamado em setembro do ano passado. Ela está causando muitos estragos ao país e seria, no mínimo, interessante que os comandantes da nação ficassem à frente de suas tarefas, e não preocupados com uma disputa ainda distante. Se continuarem assim, o vencedor dos três assumirá um Brasil extremamente debilitado. E parte da responsabilidade disso será deles próprios.
segunda-feira, 16 de março de 2009
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